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D'Artacona e as três mosqueteiras

Posted by Robino do covil


Há muito, muito tempo atrás, num país perdido no meio de bosques e matagais, nasceu um dia uma linda mosqueteira. Rapidamente firmou os seus dotes de espadachona e na praça ostentou créditos de sólida reputação machona. E, contudo, certos dias, sentia-se angustiada, como se, no pico da sua glória, lhe faltasse, ah… sei lá… algo.

Enquanto isso, numa pseudo floresta-virgem próxima, outra mosqueteira, ocupava as longas tardes primaveris exercitando-se com sabres, floretes e postilhões, não imaginando, todavia, que com o passar dos anos, infalivelmente um instrumento aguçado acabaria por levar a melhor sobre a sua determinação em permanecer casta e pura ao seu firme desígnio de ser tão só uma mosqueteira simples, um simples mosqueteira, até o dia em que casasse e se transformasse, qual crisálida, numa boa esposa e mãe…

Um dia, as duas mosqueteiras encontraram-se e decidiram que tinham uma missão na vida: achar mais mosqueteiras como elas e, todas juntas, mosquitarem por aí.

Mal o pensaram, pior o fizeram: meteram-se ao caminho e penetraram numa densa floresta, negra como breu, ameaçadora, turva, mas excitante; seguiram caminhando, pé ante pé, até que foram dar a um lúgubre covil abandonado.

Supersticiosas do lugar, afastaram-se uns passitos, mas num frémito logo regresssaram apenas para descobrirem que, como por magia, se abrira na densa folhagem que tudo cobria uma clareira, com um regato, onde puderam, finalmente, a mais velha retocando a imagem e a outra acariciando os seios, como que em busca dos primeiros sinais da inevitável decadência, descansar abraçadas.

Então, enquanto dormiam, vinda do nada, uma alva criatura surgiu diante delas, qual aparição milagrosa.

Maravilhadas, as mosqueteiras gritaram a duas vozes: Quem és tu?

E a criatura, já se esfumando num limbo diáfano, ainda teve voz para lhes sussurrar:

Sou a memória do Tempo... O relógio de água… O rio solto para o mar…


Aquela visão assustou as duas mosqueteiras, momentaneamente, mas cedo se recompuseram e, após partilharem um sorriso cúmplice, típico, prosseguiram na sua jornada, até que às tantas foram dar a um local belo que parecia pintado a baton vermelho e que inspirou nelas um enorme sentimento de frescura; de agilidade, como se sentissem em si todas as virtudes de um povoamento feliz; como se fossem as mães, as mulheres do povo inteiro.

Tal era a frescura que sentiam que quase não davam conta de uma voz doce, e ligeiramente galanteadora, que as questionava:

Sois mosqueteiras, Formosas senhoras? Desejo juntar-me a vós, tecer armas contra os malvados mosqueteiros que nos perseguem!

Cúmplices na desgraça e felicidades alheias, as duas mosqueteiras sorriram-lhe e, desde esse dia, de duas passaram três e a sua vida foi passada em amena mosquitice, zumbindo e galhofando juntas por aí, seguras de que a mosquitar não havia no reino como elas.

PS - Só agorei reparei que me esqueci de D'Artacona...
Ora, fica para próxima, e se alguma das visadas se sentir minimamente lesada por esta singela prosa, então... Beijinhos, meus amores.

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