2:01 AM

Memórias dum emigrante

Posted by Robino do covil

São seis e meia da manhã e já estou na estação à espera do comboio que me levará ao bules. Caí uma chuva miudinha e ainda é de noite. Sete e meia e já estou fardado, gravata vermelha, jaqueta negra e camisa branca, todo pimpolho, a fingir que gosto de trabalhar, que não há nada na vida que eu mais gostasse de fazer do que ajustar pratinhos, guardanapos e talheres, no imenso salão de refeições vazio deste Hotel.

Hoje parece que vem cá um grupo de compatriotas e já sei que estou fodido: meia manhã perdida a sacar bicas a torto e a direito. O que vale é que o meu sotaque mudou muito nos últimos meses e os porcos dificilmente se aperceberão de que sou português. Senão, estava tramado, até onde se arranjam putas me perguntariam. Como está, posso queimar-lhes as bicas à vontade, que o palhaço do Paquistanês é que acaba sempre por pagar o pato.

A vaca da Jane, a gerente escocesa, vê-me com desprezo, tudo porque nunca consigo desviar os olhos das suas pernas. E porque sou um reles empregado de mesa moreno e baixote, com o irritante hábito de citar Molière, em francês, por dá cá aquela palha, e a quem ninguém, nem mesmo esta puta, conseguiu jamais enrabar. São muitos anos disto, Maria, anos demais.

Trabalha-se bem e a doer aqui no Hotel. Sempre a dar-lhe forte e sempre de pé. Em cima dos sapatos para a frente e para trás até ser hora de fugir para a cigarrada da praxe, e vá de voltar para a cozinha outra vez a sonhar com a merda do clima ameno e do terreno em Guimarães onde vamos construir o café.

É complicado fumar aqui. Os tipos de cá não gostam do fumo e em todo o Hotel só mesmo na porta dos fundos, por onde pessoal e entregas passam, se pode esgalhar uma cigarrada sem problemas de maior, e, ao mesmo tempo, catrapiscar as gajas novas da limpeza. São cá umas porcas, as putas, se não metem pelo menos um motherfucker por frase até fico admirado. Enfim, curiosidades desta working class que esqueceu a família Belamy e se rendeu às novelas dos primos americanos.

De manhãzinha faz muito frio aqui e para fumar convém ter a porta aberta, não vá a merda do detector de incêndios entrar em delírio e começar a disparar pois já me chega a merda da má sorte corrente que me dá esta puta de vida e estes empregos merdosos. Está gelado, aqui, aqui está sempre gelado.

Mas está-se bem ao mesmo tempo. Tira dali, coloca mais a frente, faz-se um desvio um pouco a esquerda, “Yes sir, cofee or tea? Would you like some toast? Certainly sir, in a moment”, entra-se pela cozinha, máquina de café a postos, os pratos sujos atirados judiciosamente de propósito para espirrarem na farda imaculada do imbecil do colega paquistanês, torradeira no canto do olho, ouvido atento à piada brejeira do subalterno dos ovos estrelados, e toca a andar que o tipo da mesa gosta pouco de esperar pelo seu chá... Aliás, quem gosta de esperar pelo seu chá? Essa agora...

Nisto são duas da tarde e só falta uma para dar de frosques, a dor nas pernas é insustentável, mas não há nada a fazer; é preciso lutar, lutar sempre. As libras não caem do céu e sem elas não há vida depois da Inglaterra. O paquistanês que o diga.

“Could you clean the cutlery, Robino?” Sim podia, minha doce vaca, mas preferia limpar-te os talheres antes a ti, sua boazona... “Sorry Robino? Nothing Jane, of course i’ll clean the cutlery, i’ll do it straight away. Thank you Robino, if you keep the good work, who knows, in a couple of years you might even apply for head-waiter.” Isso, isso, filha, “in a couple of years” já fui com os porcos e o teu sarcasmo não me comoverá; mas essas mamas deliciosas desde sempre me comoveram e sempre me comoverão, chuif.

E vá de enfiar a merda dos talheres no frasco do vinagre morno e enxugá-los, um por um, são pelos menos mil, a mielas com o Paki, de forma a que não fiquem com as marcas foleiras da água da máquina de lavar. Este trabalho é o maior frete de todos, mas faço-o sempre com rigor e profissionalismo. Ele também. Afinal, esta merda é ou não é de cinco estrelas? Sim, porque, foda-se, temos brilho nas merdas que fazemos, eu sou um bom profissional, ele também, e gostamos de o ser e se o não fossemos há muito estes paneleiros nos teriam posto com dono. Aí, então, é que estava o caldo entornado. Nem libras, nem Maria, nem negócio quando voltar a Portugal. Mas, porra, como me doem as pernas.

O Paki também está cansado, e apesar da religião acaba por ser bom tipo. Traz sempre um sorriso doce e generoso. E depois de todas as merdas que lhe faço, tem sempre para mim um gesto atencioso e quando me finjo de teso nunca me nega uma nota de dez. Estou cansado, Maria, muito cansado.

O que nos vale é que nos deixam cagar pelo menos uma vez por dia e sempre que vou à sanita aproveito para descansar e gozar com a malta. Apercebi-me há dias que o otário do chefe da cozinha, que tem uma mulher podre de boa e que por isso se julga erradamente corno, costuma ir arrear o calhau sempre por volta das duas e meia. Vou um bocadinho antes dele e entretenho-me a rabiscar na porta da cagadeira mensagens jocosas destinadas a impedir que ele usufrua em paz do seu momento solitário. Estou particularmente orgulhoso da que lhe deixei hoje: “While you’re here, your wife is sucking cock”.

O Paki ri-se de tudo isso e diz-me num tom estudado e subtilmente irónico: “you portuguese are all mad, the Prophet will take good care of you all in the after life; and your wife will fuck you personally in the present one, my dear Robino”.

Três e meia da tarde. É quase noite outra vez lá fora. Que se fodam os talheres e vão todos comer na peida, seus filhos da puta, que tenho mais o que fazer. “Bye bye Jane, got to go. Bye bye Ahmed, see you tomorrow”.

E arranco para a rua. Passo ao quiosque por baixo do túnel que tem revistas de gajas nuas e apanho o autocarro que me leva ao city centre para o segundo turno do bules no bar. Merda, se continuo com dois empregos dou cabo da saúde, penso eu, enquanto passo os olhos pelas Macnotícias do jornal gratuito. Se me aleijo a trabalhar, aí sim, não haverá libras que me valham. Se não fosse a promessa de nos casarmos quando voltar e abrir o café, não sei Maria, não sei.

Entro a bulir pela tardinha, seis da tarde a bater, no caminho passo primeiro ao Gallery, só pró whiskinho ligeiro e para sondar o ambiente da evening. Sim, porque o Gallery é sempre um bom barómetro da noite. Quando o Gallery está cheio, é porque estou fodido.

Mas isso são detalhes. O Gallery é a primeira paragem no caminho para o bules. Ando muito nervoso nos últimos tempos e para ganhar confiança bato-me logo em seguida ao Bay Horse, onde o whisky é mais barato. Sítio fodido, só dá mangueira no Bay Horse e saio de lá claustrofóbico, a olhar o relógio e já a estugar o passo.

Última paragem, o Loop. Lindo nome, não sei como se traduz loop, mas a mim sempre me deu a ideia de salto em frente, vigoroso, quase atrevido, confiante e bem disposto. O Loop é um bar como o que gostava de abrir contigo em Portugal, ou nem por isso, por estas horas já me estou bem nas tintas e vejo tudo cor de rosa. Mas, de certo modo, o Loop é classe, outra onda, mais business e menos povo, malta de escritório high-tech, mulheres bonitas pintadas de fresco, executivos de fato e gravata, empregados de mesa imaculadamente latinos... Jack Daniels e toca a andar, agora já nem disfarço e vou mesmo a correr.

A tasca aonde vou buscar em cinco horas mais dinheiro do que em três dias de Lisboa é grande; um espaço amplo, com muitas mesas de madeira, mesas de bilhar, duas pistas de dança, e três bares propriamente ditos. A minha função? Simples: apanhar copos e depositá-los no bar principal, na área de serviço. Fácil? O caralho!

Na hora de ponta são mais de mil indivíduos, pelo menos 600 bêbados, 700 muito bem dispostos e 999 que se estão a cagar para ti e para o teu trabalho. Chegas ao fim e deitas um cheiro esquisito; metade destilaria, um quarto cavalo, e um quarto homem-raiva-desespero, Maria.

O giro é o ambiente, todos os empregados estão com os copos, e eu sou talvez dos que menos bebem. Ainda assim, pela surra um gajo apanha tosgas de virar o catramundo e aterrar na Lua; bem se vê, só mesmo a gozar é que se leva com um emprego destes.

E as gajas, olha, as gajas passam-se a valer com os homens do bules, oh se passam...

O pior é que ao fim dum tempo um homem nem sequer as vê – só vez copos, garrafas, copos altos, garrafas de litro, copos de pint, garrafas de champanhe, copos de cocktail, copos fáceis, copos difíceis, colegas que se piram, colegas que te berram aos ouvidos, colegas que te passam vodkas duplos para as mãos, colegas que desmaiam e caem para o lado... e copos e mais copos e copos...

Fodido mesmo nem sequer é isso; fodido mesmo é quase a acabar, pegar em bancos que pesam 30 quilos cada, e vá de os arrastar e atirar dum lado para outro sem objectivo aparente que não seja dar cabo do caparro. No fim, a tarefa simpática: varrer tudo, meticulosamente, irrepreensivelmente, antes de me enfiar num taxi para ir dormir sozinho às duas da manhã. Maria, se não fosses tu, Maria, não sei, não sei.

8:40 AM

Sem medo do palco

Posted by Robino do covil


O cantor Robbie Williams, o qual como toda a gente sabe marchava antes e depois do photoshop, (alguma coisa haveria de ter em comum com o Robino) acaba de revelar que ao embriagar-se e/ou drogar-se fica com uma enorme apetência para fornicar whoever strikes his fancy (mais outra coisa que tem em comum com o Robino) - não importa onde nem quando.

O ídolo da pop, cujo último álbum já se encontra nos escaparates, revelou então que, nas mencionadas circunstâncias, faz amor em aviões, jardins, comboios, parques de estacionamento e etc. É caso para dizer não tem medo do palco, mas sim muita sorte em não ter sido ainda paparizado numa situação que lhe revelasse os pés de barro...

PS - E esta, senhora dona S? Embebeda-o e droga-o, filha, embebeda-o e droga-o, eheheh...

9:36 AM

Carta a um filho em apuros

Posted by Robino do covil

Querido filho,

Recebi com enorme consternação as notícias que dão conta dos teus problemas financeiros. É escusado ires-te queixar à mãe; desde a última vez que a desafiaste, posando semi-nú num baile de Carnaval, ela ficou terrivelmente sentida contigo e não mexerá uma palha para te ajudar. Ainda por cima agora, que valores mais maternos do que aqueles que a unem a ti se erguem.

Quanto ao avô, é melhor nem pensares: não se esqueceu das tuas diabruras quando eras jovem e das dores de cabeça que lhe provocaste quando esqueceste os teus laços familiares e te meteste a apregoar que ele, pai do teu pai, não passava dum cara de atum da linhagem dos Silvas.

Filho, temo por ti. Tão pouco o teu amigo Jaime me inspira confiança... Nunca tiveste jeito para escolher as tuas amizades e como sabes os ratos são sempre os primeiros a abandonar o navio, já para não falar das cotovias que do alto da sua cátedra iluminada não perderão tempo a hostilizar-te desdenhosamente.

Filho, o pai não pode fazer muito por ti a não ser aconselhar-te o seguinte: consolida filho, consolida...

3:45 AM

A cortina de Sócrates

Posted by Robino do covil

Vem aí o referendo ao aborto e Sócrates esfrega as mãos de contentamento. O nosso primeiro não dá ponto sem nó e, de forma inteligente, deu razão ao mais estúpido dos argumentos: "Vamos deixar 230 deputados decidir por nós?" O badameco fascistóide que se lembrou desta para invocar o referendo esqueceu-se que os 230 decidem por nós todos os dias e em todas as matérias. O crápula olvida que os 230 foram eleitos por todos nós para fazer exactamente isso. Sem tirar nem pôr.

Mas, dizia, de modo inteligente, Sócrates colou-se logo e avançou com o dito referendo, pois sabe que o único vencedor seguro e antecipado é ele e o seu Governo. Esperem para ver. Enquanto estivermos todos entretidos a concordar ou a discordar com os canalhas de serviço (Ó Lutero, ó Calvino, ó Henrique VIII, porque não nasceram em Portugal?..) pela calada Sócrates irá fazendo aprovar as medidas que muito bem entender com o intuito de nos aliviar a carteira e, diz ele, colmatar o buraco do défice.

Quanto ao resto, este referendo é uma grandíssima sacanagem. Na melhor das hipóteses, ganha o Sim e fica tudo na mesma, com os púdicos dos médicos a invocar Hipócrates para mandarem as mulheres à merda no serviço público e o todo poderoso Euro para lhes tratarem do problema no privado. Na pior, ganha o Não e constatamos de novo que esta merda não tem remédio, porque a
Reforma não passou por aqui e a malta com dois dedos de testa prefere fugir a viver em tal choldra. Eu vou votar. Mas não me falem de aborto, só de ouvir falar em referendo ao aborto apetece-me sacar da pistola.

9:21 AM

O maior de sempre

Posted by Robino do covil


Nas últimas semanas muitos disparates se têm dito a propósito de um concurso televisivo que pretende "eleger" o maior português de todos os tempos. Os dislates que sobre a matéria têm circulado são vários, mas o meu preferido é o do carácter democrático da coisa: "Você pode votar em quem quiser, até no seu vizinho." Então mas eu agora vou lá votar no filho da puta que mora por baixo do meu apartamento e que, ontem, me acordou às três da matina, a dizer que tinha uma inundação em casa, que lhe chovia em casa e a quem eu, afavalmente, recomendei a compra de um guarda-chuva, só para ver o gajo ficar mais cinzento que o céu dos últimos dias em menos de dois segundos?.. Era o que mais faltava!

Obviamente, o critério para a escolha tem de passar pelas acções dos putativos candidatos: têm de ser pessoas que tenham contribuído para o bem do país e da Humanidade em geral, de forma sólida e consistente.

Assim sendo, não percebo a razão de ser deste concurso; está na cara que a escolha tem de recair num homem que, ao longo de mais de vinte anos, single-handed e sem qualquer apoio do Estado, proporcionou a felicidade a milhares de pessoas; um homem que levou aos quatro cantos do globo as qualidades do ser português; um homem, enfim, simples e sem pretensões de grandeza, um homem que não se deixou enebriar pelo poder mas antes partilhou o seu dom do Amor com quantas pode. O seu nome, o nome do maior português de sempre é, sem qualquer dúvida, Zezé Camarinha.
PS- Se por acaso esta escolha não vos agradar, é favor consultar a do Kaos, cujo candidato é também de grande monta, como aliás a imagem comprova...

3:58 AM

Fake colours

Posted by Robino do covil


Pois é... O que o photoshop não faz pelas pessoas. (ver o post abaixo)

2:02 AM

True colours

Posted by Robino do covil

Alguém no seu perfeito juízo consideraria esta menina uma sex-symbol? Já agora, quem é esta menina?..

6:09 AM

Pinto Ribeiro - O regresso

Posted by Robino do covil



O PR está de volta. E com ele, toda a bílis da blogoesfera lusitana. Desta vez, fez as pazes com o diabo e regressa em parelha com a "delicious and delightful"nia A. Seguramente, isso irá contribuir para lhe moderar a digestão, mas não o vício do livre pensamento e muito menos o asco inato aos esteriótipos e a determinação da agressividade germânica. É um regresso que saúdo. Quanto mais não seja porque me obriga a contemplar-me no jogo dos espelhos deformados dos ideais que não se conjugam no infinitivo do verbo partilha e nos quais há muito deixei de acreditar.

2:32 AM

O doce do Pisconight

Posted by Robino do covil


Por ter apresentado um visão pós-moderna ("É de pequenino que se enraba o bonequinho") de um dos mais carismáticos provérbios da língua portuguesa, o doce vai para... Pisconight! Aqui o tem, vem equipado com duplo airbag, jantes de liga leve, pneus com picos para a neve e, segundo dizem, vai dos zero aos 18 centímetros em menos de dois segundos... Para a Pseudo, a decifradora de leit-motifs da Literatura, uma menção honrosa e para o Humor Negro, hipnotizador de tribos somalis, o prémio de consolação...

8:23 AM

Provérbio

Posted by Robino do covil

Complete o provérbio: "É de pequenino que..." O autor da continuação mais original ganha um doce...

4:11 AM

O prémio da Pseudo

Posted by Robino do covil


A Pseudo é inteligente, culta e perspicaz e rapidamente descobriu que Barão Vermelho só poderia ser Manfred Von Richoften; Quanto ao escritor que se pedia, deduziu por linhas travessas que "In the nick of Time" estava relacionado com um livro de Tom Wolfe, "In Our Time". Como disse a Pseudo é inteligente, culta e perspicaz, mas tem um defeito: Não consegue resistir à tentação da má alimentação e depois dá nisto. Portanto, aqui tem o prémio que a vai ajudar a superar esse problema!

4:02 AM

O prémio do Promie

Posted by Robino do covil


O Promenade du Feu foi o primeiro a descobrir que o título "Isto não é um post" era uma referência à obra de Magritte, "Isto não é um cachimbo". Por isso, aqui tem o prémio, para se consolar, fumando-o lentamente nas longas noites de Inverno!

1:29 PM

Adivinha "coltural" 2 (duas)

Posted by Robino do covil


No terceiro texto por baixo deste há uma referência velada a um às do primeiro quartel do séc. XX. Não, não é a Liz Hurley (como é que o imbecil do Hugh Grant preferiu uma Divine Brown a um docinho destes é coisa que jamais entenderei). O primeiro que nomear o às em causa (e não, não é o de copas) ganha um prémio, diferente do que se oferece na peça abaixo desta. No entanto, para receber o prémio não se pode esquecer de nomear também o famoso escritor norte-americano a que no terceiro texto abaixo se faz igualmente referência. Confuso?.. Podem sempre começar pela adivinha antes desta.

1:17 PM

Adivinha "coltural"

Posted by Robino do covil


No texto abaixo há uma referência velada a um pintor famoso do séc. XX. Não, não é o Pat Dempsey, ele está aqui só para chatear e baralhar o raciocínio (digam lá se sei ou não o que é um homem charmoso?) O primeiro que descobrir o nome do artista em causa ganha um prémio...

7:53 AM

Isto não é um "post"

Posted by Robino do covil


Uma das minhas paixões, para além de gajas boas, drogas e álcool é a da tradução entre pares de línguas, particularmente entre o Inglês e o Português.

Ora, um dos problemas que se tem vindo a colocar no relacionamento entre estas duas línguas reside precisamente no carácter assimétrico dessa relação.

Explico: sendo o Inglês a língua das Ciências, da Economia e da Cultura, obviamente o Português recebe cada vez mais o influxo de anglicismos ou até mesmo a importação directa de termos completamente alheios à nossa língua, tout court; (um exemplo é a palavra blog, uma contração das palavras inglesas web log, que, ou eu muito me engano, ou em breve entrará nos nossos dicionários, tal e qual como a escrevemos e pronunciamos actualmente - blogue).

Um caso interessante é aquilo que eu estou agora a fazer e que todos nós fazemos quando abrimos os nosso blogues, ou seja, escrever um "post".

Como é que isto se traduz para Português? Os nossos irmãos brasileiros chamam-lhe "postagem". Mas eu não gosto. Escrevi uma "postagem"? Tenho uma "postagem" que gostava que lessem? Mete essa "postagem" nojenta no cu?.. Epá, desculpem, mas não me cheira, não me entra nada bem.

Do mesmo modo, também não me agrada o abastardamento que alguns fazem do termo, ao falarem em "postes". É que penso logo ou nos postes de electricidade ou nos outros, os "barrotes" ou "mastros". Já o termo "posta" ainda me agrada menos. Lembra-me logo "posta de bacalhau" o que, convenhamos, vai dar à mesma brejeirice foleira de "barrote", "mastro" ou "poste".

Não, nada disto me serve, mas ao mesmo tempo receio bem que, das duas uma, ou ficamos mais pobres pela manutenção do "post" ou pela introdução da "postagem". Olhem, quanto a mim, um termo que já temos, para o Jornalismo, aplicava-se aqui na perfeição: Peça. Escrevi uma "peça" no meu blogue, gostava que lessem uma "peça" que escrevi, já viste a "peça" que publiquei e por aí fora. Mas tenho a impressão que não. Para a história vai ficar a merda da "postagem" e para a linguagem do quotidiano o "post" da língua inglesa. Ou estarei enganado?..

7:30 AM

The right stuff

Posted by Robino do covil

Amanhã, o barão vermelho faz a sua última corrida. Voltará?.. Pouco interessa, nas pistas ou fora delas Michael Schumacher será sempre um deus. E que ninguém se admire se, amanhã, au Bresil, o alemão voador voltar ainda uma última vez para morder. Na curva. À saída e de preferência com chuva...

3:10 AM

Livre, pontapé, golo!

Posted by Robino do covil


Um pai entrou no quarto da filha e viu uma carta em cima da cama. Com um terrível pressentimento e as mãos a tremer, iniciou a leitura...

“Queridos pais,

É com imensa tristeza e pesar que vos digo que fugi com o meu novo namorado. Encontrei o amor verdadeiro e ele é um anjo. Especialmente com todos os piercings, cicatrizes, tatuagens e a sua grande mota.

Mas não é apenas isso. Estou grávida e o Raúl diz que seremos muito felizes na roulote dele no campo. Deseja muito ter mais filhos comigo e dar-lhos é um dos meus sonhos. Aprendi que a marijuana não faz mal algum e iremos cultivá-la para nós e para os amigos dele. São os que nos arranjam toda a cocaína e ecstasy que alguma vez possamos desejar. Entretanto, vamos rezar para que a ciência encontre uma cura para a sida, de modo a que o Raúl fique melhor. Ele merece.

Não se preocupem com dinheiro. O Raúl arranjou uma forma de eu entrar nos filmes que o Jaime o Navalhas fazem na cave deles. Aparentemente, posso ganhar até 50 euros por cena. Se estiverem mais de três homens na mesma cena, recebo um bónus de 70 euros.
Não te preocupes mãe. Agora, já tenho 15 anos e sei como tomar conta de mim. Um dia irei visitar-vos para que possam conhecer os vossos netos.

A filha que vos ama,

Lili

PS - Não é verdade pai. Estou a ver televisão em casa dos vizinhos. Era só para te fazer ver que existem coisas bem piores na vida do que o BENFICA LEVAR UMA CABAZADA DE DIMENSÃO INTERNACIONAL! OUTRA VEZ!!!

(Adaptado e traduzido do Inglês por
Luís Namora.)

12:58 PM

Ein Volk, ein Reich, ein Führer

Posted by Robino do covil


O Covil está fechado para férias. O Robino pede a vossa paciência mas quando o próprio troca as datas à vida, reconhece que há algo de errado no reino da blogoesfera e decide parar para reflectir. Até dia 21 de Outubro. Heil.

8:32 AM

Vai uma foda à canzana?

Posted by Robino do covil


Este post foi publicado pela primeira vez em Janeiro, pela minha saudosa amiga Mona Lisa e provocou um dos maiores estrilhos que o nosso quarteirão da blogo alguma vez presenciou. Hoje, aqui se republica, para assinalar o 1º aniversário da Tasca da Lídia. Como é, vai ou não vai uma foda à canzana?..

7:22 AM

Ressaca? Isso é que era bom

Posted by Robino do covil


Há uma frase que o meu mano me disse há uns anos atrás, depois de uma monumental carraspana, que é lapidar na sua clareza e clarividência: "Ressaca? Não tenho tempo para estar de ressaca." Depois, foi tomar um pequeno-almoço à inglesa, equipou-se a rigor e saiu para ir jogar à bola. É um conselho brilhante, sobretudo para tipos como eu que estão perpetuamente de ressaca. BFSPT, (interpretem como desejarem) vou à procura de uma foda, pois se há coisa que a ressaca me provoca é um brutal apetite sexual. Inté.

6:45 AM

In the nick of time

Posted by Robino do covil


O que fazer, quando acordamos ao meio-dia, esparvoados de ressaca e constatamos que dentro de 20 minutos temos de estar num sítio ao qual regra geral demoramos uma hora a chegar?..

Simples:

Despir a pouca roupa que temos vestida

Pôr o duche a correr

A cafeteira ao lume

Tomar um duche de 3 minutos

Tomar o café enquanto vestimos umas calças e uma camisa

Meter todas as coisas importantes na mochila

bater com a porta

Entrar no carro e conduzir como se tivessemos uma mulher grávida no banco de trás.

E pronto. Ufa, desta, é que foi mesmo, mas mesmo mesmo, in the nick of time.

2:16 AM

Cobarde

Posted by Robino do covil


O meu primeiro encontro com a cobardia deu-se teria cinco ou seis anos quando o meu melhor amigo me abandonou no meio de uma luta com os putos do prédio rival ao nosso. À distância percebo que ele não foi cobarde coisa nenhuma; teve foi o bom senso de fugir de uma luta antecipadamente perdida, pois eles eram seis e nós só dois.

Com o passar do tempo fui refinando a minha noção de cobardia e apercebendo-me que era um dos maiores cobardes que conhecia. A cobardia é para mim não o medo dos outros, mas o de nós mesmos. O medo de falharmos, de não conseguirmos, de perdermos, ou tão somente o medo de termos medo.

Em última análise, descobri que o melhor remédio para a cobardia é avançar ao seu encontro de peito aberto e sem medo de correr os riscos inerentes a essa atitude ou, o que é pior, arcar com as suas consequências.

Hoje, dia 11 de Outubro de 2006, assinalo a passagem do meu 11 de Setembro pessoal, que, no meu caso, chegou com um mês de atraso e que na altura não soube reconhecer por aquilo que era, um desastre, mas antes o confundi com uma benção. Seja como for, paguei o preço. E não me arrependo de não ter tido medo embora tivesse errado ao arriscar da forma como o fiz.

De qualquer modo, sem medo, brindo a esse passado, a este presente de que ele é prólogo, e ao futuro, que só a mim pertence e que serei só eu a fazer, ciente de que onzes de Setembro há muitos mas que está nas minhas mãos superá-los e fazer dos onzes de Outubro a minha força e coragem.

Viro costas à cobardia e saúdo-vos, orgulhoso até, daquilo que sou e do que virei a ser. Por isso também, deixem-me convidar-vos: alguém me acompanha e brinda comigo aos futuros aniversários, bons ou maus, com um copo de água fresca?..

PS- Quem não vence os seus medos não merece ser feliz.